11 agosto 2009

Do Sofrimento à Superação


“Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha em fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!...”

(Tente Outra Vez - Raul Seixas)









Um dia ele sempre chega; esse negror fulminante que invade cada centímetro de nossa pele, de nossas vibrações e palpitações. Essa fumaça encobre o nosso céu e nos deixa em torpor, embriaga nossos olhos e nosso caminhar fica pausado, fraco e cambaleante. Uma inebriante força enfraquece nossos olhos e então inexpressivos caímos em si e notamos o ritmo diminuir, o dia acabar e a noite gelar. Os momentos de flacidez nos ditam, e nos coloca em suspensão. Sentimos o frio penetrar intensamente em cada poro, fazendo com que essa tristeza mórbida invada com uma força incomensurável. O paladar endurece e resseca. A pele fica rígida e insensível. O cheiro fúnebre se perpetua por entre o ar. A passividade que nos envolve nos limita e nos cobre de incapacidade, de descrédito. Deixamos de acreditar em nós.

As angústias nos afligem e nos alimenta com dor, e com toda a potência enraizada em brisas lancinantes e fatais. Tudo se torna cinza. As nossas forças padecem, e então nos sentimos impossibilitados, e inertes em nosso sofrimento necessitamos de ajuda, de compreensão, e muitas vezes de um colo amigo, e uma palavra de conforto. Nesse tempo nada se encaixa, nem funciona ou faz sentido. A culpa nunca é nossa. Toda essa neblina nos deixa cego e então é mais fácil apontar um culpado a esmo, sem notarmos que o nosso amor próprio é que se distancia cada vez mais. E a cada segundo geramos pensamentos confusos, comportamentos conflitantes, e ocasionamos irritações, brigas e outras superficialidades causadas por esse abalo emocional. Chegamos à beira de um ataque ou de um precipício. O choro e o extravaso, essa dor psicológica que nos atinge vem junto com crises de depressões e estresse. Decapitados por esse pairar, nos rendemos muitas vezes a essas quedas. Então tombamos e sofremos.

Entretanto, o mundo lá fora continua no seu ritmo normal, pouco ligando para o nosso sentir, o nosso estar ou nossas preocupações. O tempo afundado nessa prisão, nesse breu, é incompreensível, pois vai depender da força de cada um. Pode ser de um dia, meses ou até anos. Embora ela seja necessária para abrirmos os olhos e juntarmos forças para nos reerguer e superarmos as dores. A partir daquele momento vamos enxergando mais racionalmente, e com a ajuda de pessoas queridas, e principalmente de nós mesmos, nossa neblina minimiza e nossa visão se torna mais clara. Um dia então ela sempre chega; essa luz e esse brilho penetrante e que tem capacidade de nos levantar e nos dar força e vigor para viver. Num longo despertar nos analisamos e nos deixamos levar por essa cálida sensação de ânimo. Num súbito aos poucos vamos descobrindo a beleza que nos rodeia, a sublime vida que nos suporta e a luz que nos abastece. Aos poucos vamos aprendendo a renascer. E com muita fé, lentamente vamos saindo do casulo em que nos deixamos envolver.

E numa consciente percepção descobrimos que ainda há muito que se ver, o que se viver, conquistar, angariar e aprender. As energias vão se recompondo, nosso vigor aumentando e nosso vibrar, nossa alegria e contentamento se recriam e se tornam presentes. A brisa resvala e nos fortalece; o sangue circula e nos aquece, nos deixando aptos e crescer, a alcançar os degraus. Aprendemos ali que devemos angariar forças para seguir em frente, e com muita luta e persistência chegar até além do limite. A cada minuto nosso ânimo vai se inflando, nosso caminhar fica mais vibrante, mais firme e sólido. As dores vão sumindo, as angústias disseminando pelo ar, e o corpo vai se enrijecendo, tornando mais forte e mais resistente. A luz vagarosamente vai iluminando nosso semblante, e os corredores escuros de nossa alma vão clareando e a pulsante vida renascendo. Então chega uma hora em que finalmente nos reerguemos e firmes caminhamos felizes, contentes e determinados. Como fênix, ressurgimos das nossas cinzas e então nos abrilhantamos e nos fortalecemos. Tudo se renova. Tudo que antes nos afligia se aniquila, e as coisas boas novamente aparecem, e nisso somos envolvidos com cálidos abraços. Conseguimos finalmente sair do sofrimento com muita superação.

Assim como esse escuro sempre vem, ele sempre vai; da mesma forma que caímos, sempre levantamos. A vida nos ensina a superar as frustrações e as decepções. E o importante é que seja sempre assim. Que nos levantemos das quedas com mais força para resistir às dificuldades e obstáculos futuros. Que tenhamos força necessária para superar todos os problemas e desafios. Logo as quedas se tornam raras e a felicidade constante.

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