06 agosto 2009

O tempo diminui a dor", de santo Agostinho.Há nele uma das considerações mais importantes sobre o luto. Santo Agostinho, que está muito afetado com a morte de um amigo, se pergunta por que sofre tanto com a perda e dá a seguinte resposta: "Por ter derramado a minha alma na areia, amando um mortal como se ele não fosse morrer". Faz uma autocrítica pelo fato de ter sido desmesurado e nada realista.A frase do santo me remete a uma outra frase complementar, escrita por Sêneca, filósofo romano: "A memória dos meus amigos mortos é atraente. Porque eu os possuí como quem tem de perdê-los e eu os perdi como quem os possui ainda". É possível que santo Agostinho tenha lido Sêneca, cujo texto indica que perder não é sinônimo de não ter e ensina a amar os mortais enquanto mortais, a aceitar a realidade.Quem não consegue fazer o luto do morto, na verdade, não está dando uma demonstração de amor pela pessoa que morreu, mas de apego à fantasia de que ela nunca morreria. Noutras palavras, não suporta se desapegar do que imaginava e viver sem a ilusão da imortalidade.Abrir mão dessa ilusão é tão difícil que o filósofo Derrida, um dos grandes pensadores do século 20, declarou em sua última entrevista à imprensa que não era possível fazer o luto da vida. À diferença de Sêneca, que consolou os amigos antes de morrer, Derrida se mostrou claramente inconsolável. Talvez por isso tenha afirmado que "a vida é sobrevida -tanto no sentido de continuar a viver quanto no de viver depois da morte".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

OBS: Os comentários dos leitores não refletem as opiniões do blog.